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Editorial: vagas com muitas exigências dificultam o acesso de pessoas de baixa renda a essas oportunidades

É comum vermos relatos de profissionais, incluindo assistentes sociais, enfrentando dificuldades para entrar no mercado de trabalho, devido à escassez de vagas e ao grande número de candidatos. Além disso, as exigências do mercado estão cada vez maiores, tanto em termos de dedicação ao trabalho quanto de formação. Infelizmente, muitos critérios de seleção, como formação acadêmica, experiência profissional e habilidades técnicas, tendem a favorecer candidatos mais abastados financeiramente.

Estes são alguns exemplos de exigências que encontramos em vagas para ONGs, para as quais assistentes sociais poderiam se candidatar:

● Ter conhecimento avançado em inglês e espanhol será um diferencial;

● Ter veículo próprio e habilitação B válida;

● Experiência prévia como voluntário

O conhecimento avançado de inglês e espanhol pode ser considerado um diferencial importante em muitas posições, mas é um critério que muitas vezes reflete o acesso privilegiado à educação e ao aprendizado de idiomas. As pessoas de baixa renda podem ter dificuldades para aprender ou praticar idiomas estrangeiros, seja por falta de recursos financeiros para pagar por cursos de idiomas, seja por falta de tempo ou oportunidades de imersão em ambientes onde esses idiomas são falados. Portanto, essa exigência pode excluir pessoas com excelentes habilidades e experiências profissionais, mas que não possuem fluência em idiomas estrangeiros.

É importante considerar que a exigência de veículo próprio e habilitação B pode ser prejudicial para pessoas que não têm condições financeiras de adquirir um carro ou pagar suas despesas relacionadas, além de limitar o acesso a vagas de emprego para aqueles que dependem do transporte público ou possuem outros meios de transporte, como bicicletas ou motocicletas. Isso pode ser especialmente problemático em áreas rurais ou periféricas, onde o transporte público é menos acessível ou de qualidade inferior.

Por fim, a exigência de experiência como voluntário pode ser classista, pois pode excluir pessoas que não têm tempo livre para se voluntariar ou que não têm acesso a oportunidades de voluntariado. Isso pode ser especialmente difícil para pessoas que trabalham em tempo integral ou que cuidam de familiares, por exemplo. Além disso, o voluntariado pode ser visto como uma atividade que é mais acessível a pessoas de classe média ou alta, que têm mais tempo e recursos para se dedicar a causas sociais.

Estes são apenas três exemplos dentre muitos outros que existem. É importante reconhecer que, em algumas situações, o conhecimento de idiomas pode ser crucial para o bom desempenho da função, o que justifica a exigência. O mesmo pode ser dito em relação à experiência em voluntariado, que pode trazer habilidades e experiências relevantes para o mercado de trabalho. No entanto, é fundamental ter em mente que muitos candidatos podem ser excluídos devido a essas exigências, especialmente aqueles que enfrentam desafios financeiros, educacionais ou de mobilidade.

Por exemplo, a disputa entre uma pessoa que teve o privilégio de fazer uma pós-graduação nos Estados Unidos ou Europa e outra que fez numa estadual ou numa particular do Brasil pode chegar a ser injusta. Espera-se que uma pessoa que fez intercâmbio tenha muito mais oportunidades de emprego que outra que ia para a faculdade apenas com o dinheiro da passagem.

É essencial que o Estado assuma a responsabilidade de criar oportunidades de emprego para pessoas em situação de pobreza e vulnerabilidade, que frequentemente têm dificuldades em ingressar no mercado de trabalho. Isso envolve ações de curto, médio e longo prazo para combater o desemprego e a exclusão social, tais como investimentos em educação, formação profissional, políticas de incentivo à empregabilidade e programas de apoio financeiro para pequenas empresas e empreendimentos locais, com a contrapartida de geração de empregos.

Além disso, é fundamental que o Estado trabalhe para combater as desigualdades estruturais que perpetuam a exclusão social, tais como a falta de acesso à educação de qualidade, cultura, serviços de saúde e transporte público adequado. Somente com medidas abrangentes e eficazes poderemos garantir um mercado de trabalho mais justo e inclusivo para todos os cidadãos.

É importante destacar que o acesso à educação superior é apenas um dos passos para a inserção no mercado de trabalho. Não basta apenas oferecer o acesso à formação acadêmica, é preciso garantir condições para que esses profissionais se qualifiquem e consigam efetivamente ingressar no mercado de trabalho.

Desigualdades acentuadas pelo trabalho remoto

O trabalho remoto é uma modalidade cada vez mais popular, porém, pode gerar desigualdades socioeconômicas, de gênero e raciais. Para que seja possível trabalhar de casa, é necessário ter acesso adequado à tecnologia e à internet, mas nem todos têm conexões rápidas ou estáveis. Além disso, muitos trabalhadores não possuem equipamentos adequados para o trabalho remoto, o que pode gerar dificuldades ou até mesmo prejuízos físicos. Essa questão afeta especialmente trabalhadores de baixa renda, que muitas vezes não têm recursos para comprar ou alugar equipamentos adequados.

O trabalho remoto pode intensificar as desigualdades socioeconômicas, de gênero e raciais, com as mulheres sendo especialmente afetadas devido às obrigações de cuidados familiares e à divisão estereotipada de papéis domésticos. Além disso, pessoas negras ou pertencentes a grupos étnicos minoritários podem enfrentar desafios adicionais para o trabalho remoto, devido aos preconceitos estruturais dentro do mercado de trabalho. Por fim, trabalhadores de baixa renda podem enfrentar dificuldades financeiras adicionais ao trabalhar em casa, devido ao aumento dos custos com compra de equipamentos, energia, água e internet.

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Por fim, para construir uma sociedade mais justa e equitativa, é fundamental combater essas desigualdades no mercado de trabalho e valorizar a diversidade e as habilidades de todos os trabalhadores. O Poder Público, empregadores, empregados e todos os indivíduos precisam reconhecer e enfrentar essas questões para garantir o acesso igualitário às oportunidades. É urgente buscar alternativas para garantir que o acesso ao mercado de trabalho seja mais inclusivo e menos restritivo para pessoas de diferentes condições socioeconômicas. Não podemos compactuar com práticas excludentes e classistas no mercado de trabalho.

2 comentários em “Editorial: vagas com muitas exigências dificultam o acesso de pessoas de baixa renda a essas oportunidades”

    1. Olá, Bruno! Desculpe pela demora, estive ausente durante a Semana Santa. A imagem da vaga foi criada com base nos critérios de outras vagas que vemos diariamente. O objetivo é fazer o leitor refletir sobre esses critérios.

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