O livro “O Serviço Social na Contemporaneidade: Trabalho e Formação Profissional” de Marilda Villela Iamamoto foca sua análise nos desafios e na evolução do Serviço Social enquanto profissão, considerando os impactos das transformações econômicas, políticas e sociais em âmbito global e local. Vejamos abaixo pontos importantes da obra de Iamamoto.
O Serviço Social como Especialização do Trabalho
Iamamoto define o Serviço Social como uma especialização do trabalho coletivo inserida na divisão social e técnica do trabalho. Desse modo, a profissão é analisada sob o prisma das suas condições históricas, considerando o papel do assistente social na reprodução das relações sociais e na gestão de políticas públicas. A autora salienta que:
A abordagem do Serviço Social como trabalho supõe apreender a chamada “prática profissional” profundamente condicionada pelas relações entre o Estado e a Sociedade Civil, ou seja, pelas relações entre as classes na sociedade, rompendo com endogenia no Serviço Social (p.18-19).
Essa perspectiva busca romper com a endogenia no Serviço Social, ou seja, com uma visão limitada que analisa a profissão apenas a partir de suas dinâmicas internas. Em vez disso, propõe situar o Serviço Social dentro da totalidade, que compreende processos macrossociais – como a distribuição de riqueza, o papel do Estado e as lutas de classe – condicionam tanto as demandas enfrentadas pelos assistentes sociais quanto as suas respostas profissionais.
Iamamoto discute como o trabalho, no âmbito da sociedade capitalista, no contexto da alienação. No contexto do Serviço Social, isso se reflete no caráter contraditório da profissão, pois, ao mesmo tempo em que busca atender às necessidades das classes trabalhadoras, também pode reforçar os mecanismos de controle social do capital.
Nesse ínterim, o Serviço Social participa tanto da produção quanto da reprodução das condições materiais e simbólicas da vida social. Ora, a profissão se insere em processos que envolvem a redistribuição de recursos, a produção de serviços e a mediação de conflitos sociais.
A Questão Social
Iamamoto entende a questão social como o conjunto das desigualdades produzidas pelo modo de produção capitalista. A argumentação da autora justifica que a gênese do Serviço Social é uma resposta às expressões da questão social, como a pobreza, a exclusão e a desigual distribuição de riqueza.
A autora explica a contradição entre a produção social (que é coletiva) e a apropriação privada dos frutos do trabalho. Isso se manifesta na concentração de riqueza e no aumento das desigualdades sociais. Ainda, com a globalização e as políticas neoliberais, as expressões da questão social são amplificadas. Problemáticas como desemprego estrutural, subemprego e precarização do trabalho estão associados às mudanças no mercado global e na organização do trabalho.
A Formação Profissional
Iamamoto discute sobre a formação profissional, enfatizando a necessidade de uma formação crítica, comprometida com os valores democráticos e os direitos sociais. Portanto, a autora propõe um projeto ético-político que busca alinhar a prática do Serviço Social aos princípios da justiça social, equidade e emancipação humana. Esse projeto envolve uma formação que supere a visão tecnicista e burocrática da profissão.
O movimento de reconceituação é central na análise de Iamamoto. A partir do exposto, ela destaca a necessidade de aprofundar a tradição marxista como base para a crítica teórica e a prática profissional transformadora.
Para saber mais sobre o movimento de reconceituação clique aqui.
O Trabalho Profissional na Contemporaneidade
Iamamoto analisa o impacto das transformações econômicas e sociais no exercício da profissão, destacando os desafios enfrentados pelos assistentes sociais no atual contexto global. A autora aborda fenômenos como a terceirização, a flexibilização e a desregulamentação das relações de trabalho, que impactam diretamente as condições e funções do assistente social. Na contemporaneidade, há uma tendência à ampliação das funções do assistente social, muitas vezes acumulando tarefas que extrapolam suas atribuições tradicionais. Essa prática está associada à precarização das condições de trabalho.
Práticas Acadêmicas e Pesquisa no Serviço Social
Por fim, Iamamoto propõe a articulação entre ensino, pesquisa e extensão no Serviço Social como estratégia para fortalecer a formação e a prática profissional. A autora sugere a utilização de oficinas temáticas e núcleos de pesquisa integrados ao currículo acadêmico, reforçando a importância de uma abordagem interdisciplinar e crítica.
Referência
IAMAMOTO, Marilda V. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 10. ed. São Paulo: Cortez Editora, 2006.
Professor universitário. Doutorando em Políticas Públicas. Mestre em Sociologia. Especialista em Gestão Pública Municipal. Especialista em Direito Previdenciário. Bacharel em Serviço Social e em Administração.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5220780303947208
ResearchGate: https://www.researchgate.net/profile/Francisco-Garcez