A desigualdade social no capitalismo é um tema central para entender as tensões e contradições que surgem entre o capital e o trabalho. Conforme a teoria de Iamamoto, essas desigualdades resultam na exclusão de amplos setores da sociedade e, ao mesmo tempo, geram formas de resistência por parte da classe trabalhadora. O Serviço Social, nesse contexto, tem um papel fundamental: mediar as consequências dessas desigualdades, atuando na formulação e implementação de políticas públicas que visam combater as expressões da questão social. Neste artigo temos como objetivo, à luz de O Serviço Social na Contemporaneidade: Trabalho e formação Profissional, de Iamamoto, explanar sobre a questão social e o Serviço Social.
Desigualdade e a Questão Social no Capitalismo
No livro, Iamamoto define a questão social como as várias formas de desigualdade que surgem do conflito entre o capital e o trabalho. Essas desigualdades geram tanto pobreza quanto formas de resistência da classe trabalhadora. O Serviço Social tem, então, a função de atuar na mediação dessas tensões, seja por meio da intervenção em políticas públicas, seja pelo apoio direto aos grupos marginalizados. A profissão se torna, assim, uma especialização do trabalho na sociedade capitalista, onde os assistentes sociais são chamados a enfrentar os desafios e contradições do modo de produção capitalista.
Questão social apreendida como o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade.
Iamamoto em O Serviço Social na Contemporaneidade: Trabalho e formação Profissional, p.26.
Iamamoto aponta que a raiz das desigualdades está na contradição central do capitalismo: a produção é realizada de maneira coletiva, mas sua apropriação permanece privada e concentrada em poucas mãos. Nesse cenário, o Serviço Social enfrenta o desafio de reforçar e consolidar seu projeto político-profissional, especialmente em tempos de neoliberalismo, marcados por exclusão, exploração e desigualdades profundas. A atualização desse projeto exige manter uma abordagem crítica e transformadora, com foco na defesa da liberdade, democracia, direitos humanos e justiça social.
Os assistentes sociais lidam diariamente com a questão social nas suas diversas manifestações, que vão desde o trabalho, família, moradia, saúde, até a assistência social pública. Essas desigualdades, embora resultem em exclusão e marginalização, também geram, nas palavras da autora, rebeldia e resistência por parte daqueles que vivenciam essas situações. A atuação dos assistentes sociais se dá nesse espaço de tensão entre a criação das desigualdades e a reação dos sujeitos que resistem a elas.
Os assistentes sociais, portanto, não podem se afastar ou ignorar essas contradições, pois estão diretamente imersos nos conflitos sociais que tecem a vida cotidiana. Decifrar as novas formas que a questão social assume hoje é crucial para o Serviço Social, pois isso permite compreender tanto a produção e reprodução das desigualdades, quanto identificar e promover as formas de resistência que já estão presentes no cotidiano. Muitas dessas resistências se manifestam de maneira sutil ou oculta, mas fazem parte das tentativas de reinvenção da vida pelos segmentos mais vulneráveis da população, que dependem do trabalho para sobreviver. O desafio do Serviço Social é, então, captar essas tensões, explorar as múltiplas pressões sociais, e ajudar a forjar novas formas de resistência que apontem para ampliação dos direitos sociais.
O Projeto Ético-Político do Serviço Social
A consolidação do projeto ético-político do Serviço Social envolve um esforço de resistência em um cenário adverso, lutando contra as forças que perpetuam as desigualdades sociais. O projeto coloca como central a defesa intransigente da liberdade, vista como o reconhecimento da autonomia e emancipação dos indivíduos. Isso implica que o trabalho do assistente social deve promover a expansão das capacidades humanas, reforçando práticas que fortaleçam a democracia e a participação social. Além disso, é necessário ter o projeto profissional vinculado à defesa dos direitos humanos, recusando qualquer forma de autoritarismo ou arbitrariedade.
Nesse ínterim, o assistente social deve ter um compromisso com qualidade dos serviços prestados e com a universalização do acesso aos direitos sociais. A categoria profissional influencia a formulação e a implementação de políticas públicas que definem o acesso da população aos direitos básicos e fundamentais. Entretanto, a luta contra os critérios de seletividade impostos por crises fiscais se constitui como um dos maiores desafios enfrentados por esses profissionais. Para isso, é essencial que os assistentes sociais tenham domínio sobre orçamentos públicos e o financiamento das políticas sociais, garantindo que os recursos sejam destinados corretamente às áreas que demandam mais atenção.
Serviço Social, proposição e pesquisa
A ideia central é que o assistente social deve ser um profissional propositivo, alguém que não só executa tarefas simples e repetitivas, mas que também propõe soluções e luta por ampliar o acesso aos direitos sociais. Esse profissional precisa estar atualizado, sintonizado com as rápidas transformações sociais e econômicas. Além disso, deve ser também um pesquisador, que investe em sua formação contínua e acompanha as mudanças históricas e conjunturais, buscando transformar essas mudanças em alternativas de ação profissional.
Essa postura proativa, crítica e tecnicamente qualificada é o que permite ao assistente social transformar potenciais problemas em propostas de trabalho, promovendo ações concretas que ampliam o acesso e a eficácia das políticas públicas.
Para uma leitura detalhada sobre o tema, recomendamos o livro O Serviço Social na Contemporaneidade: Trabalho e formação Profissional de Iamamoto.
Professor universitário. Doutorando em Políticas Públicas. Mestre em Sociologia. Especialista em Gestão Pública Municipal. Especialista em Direito Previdenciário. Bacharel em Serviço Social e em Administração.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5220780303947208
ResearchGate: https://www.researchgate.net/profile/Francisco-Garcez