O Serviço Social desempenha um papel crucial na análise e reflexão sobre a situação dos trabalhadores em todo o mundo, inclusive no Dia do Trabalho – Dia das Trabalhadoras e Trabalhadores. Ao refletir criticamente sobre essa data, é importante destacar não apenas as lutas históricas dos trabalhadores, mas também as contradições e desafios enfrentados atualmente, como as condições precárias de trabalho e a falta de garantias trabalhistas. Nesse sentido, é essencial conectar essa reflexão com a realidade dos assistentes sociais, que enfrentam a contradição entre a grande quantidade de profissionais formados anualmente e a escassez de vagas de trabalho disponíveis.
Embora muito se fale sobre o piso salarial, é ainda mais crucial abordarmos sobre a enorme quantidade de assistentes sociais desempregados e as condições precárias de trabalho em nossa categoria profissional. Em 2009, em seu texto ‘Serviço Social na Cena Contemporânea’, Iamamoto alertou sobre a contradição entre o número de assistentes sociais formados anualmente e a escassez de postos de trabalho disponíveis no mercado.
Atualmente, vivemos em um momento histórico em que a precarização da profissão de assistente social atinge níveis alarmantes. Essa precarização, contudo, não é recente e reflete uma tendência que se verifica em várias outras profissões. A explicação para tal fenômeno não é simples, mas podemos apontar algumas pistas: as tecnologias estão substituindo trabalhadores, o mercado busca cada vez mais aumentar seus lucros gastando menos, e há uma má administração dos gestores públicos brasileiros em relação à coisa pública. Basta pensar na desigualdade entre a riqueza produzida pelo país e o índice de qualidade de vida de sua população. No universo dos assistentes sociais, é comum encontrarmos trabalhadores 20-20, ou seja, aqueles que precisam ter dois empregos de 20 horas para complementar sua renda.
A profissão enfrenta diversas problemáticas que impactam negativamente na vida dos trabalhadores. Baixos salários (e, ainda corroído pela inflação), vagas “marcadas”, excesso de cargos comissionados no serviço público e más condições de trabalho são apenas algumas delas. Infelizmente, essas questões não têm data para acabar e fazem parte do nosso universo profissional. Além disso, é comum vermos pessoas formadas em Serviço Social trabalhando em áreas completamente diferentes da sua formação, como em portarias, salões de beleza, barbearias, entregas via aplicativos, entre outras. Isso não tem nada a ver com demérito dessas profissões, mas sim com a falta de oportunidades de trabalho para assistentes sociais que desejam atuar em sua área de formação.
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Podemos perceber que a falta de emprego não é necessariamente por “culpa” da pessoa que está desempregada, nem é porque ela desconhece estratégias para conseguir emprego. Na verdade, há uma escassez de postos de trabalho destinados ao Serviço Social. Além disso, o crescimento desenfreado de cursos de ensino superior não foi acompanhado pela infraestrutura necessária para empregar todas essas pessoas. Isso acaba gerando uma situação em que muitos indivíduos formados em Serviço Social acabam se vendo obrigados a trabalhar em outras áreas, mesmo desejando atuar em sua profissão. Outra questão bastante pertinente é o crescimento de “profissões sociais” (como agente social, analista social, orientador social), levando à confusão de atribuições e ao enfraquecimento da profissão.
Para combater a precarização do mercado de trabalho brasileiro, não basta apenas depender da fiscalização. É preciso que haja uma reflexão crítica e mobilizações amplas para lidar com esse problema. Ações macroscópicas são necessárias para transformar as condições de trabalho em nosso país. Isso inclui políticas públicas que priorizem o emprego de qualidade e investimentos em educação e capacitação profissional, bem como a luta por direitos trabalhistas e sociais que garantam dignidade aos trabalhadores.
A data do Dia do Trabalho é uma oportunidade valiosa para refletir sobre as questões que afetam o mundo do trabalho e, sobretudo, sobre a importância do papel dos assistentes sociais nesse contexto. Nesse sentido, é fundamental destacar as seguintes questões:
a) Pleno emprego e valorização da categoria profissional: É preciso que a sociedade reconheça a importância do trabalho do assistente social e que haja valorização e investimento na formação e capacitação desses profissionais. Além disso, é fundamental que haja políticas públicas que assegurem a adequada remuneração, condições de trabalho e proteção social para os assistentes sociais e demais trabalhadores. A valorização do trabalho dos assistentes sociais contribui para a promoção da justiça social e para a construção de uma sociedade mais igualitária e solidária.
b) Necessidade de uma formação profissional crítica e não apenas voltada para uma atuação mecanicista: É necessário que a formação seja crítica e reflexiva, possibilitando aos profissionais o entendimento da realidade social em suas múltiplas dimensões. Uma formação mecanicista, que apenas transmite técnicas e normas, não é suficiente para lidar com a complexidade das demandas sociais. É importante que a formação proporcione aos assistentes sociais uma visão ampla e integrada da realidade, incentivando a pesquisa, a análise e a produção de conhecimento.
c) Necessidade de articulação entre os assistentes sociais e a classe trabalhadora: Para fortalecer a atuação dos assistentes sociais na luta pelos direitos sociais e trabalhistas, é essencial que haja uma estreita articulação entre esses profissionais e a classe trabalhadora. Dessa forma, os assistentes sociais podem compreender melhor as demandas dos trabalhadores, reconhecer-se enquanto classe trabalhadora e contribuir para o fortalecimento dos movimentos sociais e sindicais, promovendo a participação ativa das comunidades na construção de políticas públicas e na garantia de seus direitos.
Os espaços sócio-ocupacionais do assistente social: Reflexões à luz de Iamomoto.
Professor universitário. Doutorando em Políticas Públicas. Mestre em Sociologia. Especialista em Gestão Pública Municipal. Especialista em Direito Previdenciário. Bacharel em Serviço Social e em Administração.
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