Muitos de nossos leitores dos artigos da categoria pesquisa e TCC nos trazem dúvidas sobre o assunto. Para buscar responde-las, realizamos uma entrevista sobre pesquisa em Serviço Social com a professora Laura Martins. O assunto é muito importante porque pesquisa faz parte de nossa formação profissional e do fazer profissional do assistente social. Confira a entrevista abaixo!
Laura Hêmilly Campos Martins é assistente social, mestra em sociologia, doutoranda em políticas públicas e professora de ensino superior, com experiência nas disciplinas de Pesquisa e Trabalho de Conclusão de Curso.
1- Quais os primeiros passos para iniciar uma pesquisa na área do Serviço Social?
Ele (a) deve indagar a si mesmo: quais áreas mais despertam meu interesse na graduação? Dentro dessas áreas, quais assuntos têm potencial para problematização e indagação? É possível pesquisar esse tema? Conto com os recursos temporais e materiais necessários?
Laura Martins
A pesquisa formal é um processo investigativo sistemático, racional, organizado, detalhado, fundamentado em teorias vigentes e deve ser iniciada a partir de uma dúvida, ou seja, de uma curiosidade intelectual em responder algo e realizar um estudo. O (a) aluno (a) precisa primeiro ter em mente questões como: Por que quero conhecer “esse algo”? Onde almejo chegar com essa pesquisa? O que farei com os resultados obtidos?
Na pesquisa em Serviço Social, o aluno deve pensar em um assunto que de fato o interesse – e tentar transformá-lo em um objeto científico de estudo. O ideal é pensar em uma temática que mantenha motivação, afinal o (a) aluno (a) vai passar alguns meses explorando o tema, lendo sobre aquele assunto. Darei exemplos em formato de perguntas, pois acho que é um modo didático de levar o (a) aluno (a) a refletir. Ele (a) deve indagar a si mesmo: quais áreas mais despertam meu interesse na graduação? Dentro dessas áreas, quais assuntos têm potencial para problematização e indagação? É possível pesquisar esse tema? Conto com os recursos temporais e materiais necessários?
Essas são questões aparentemente simples, porém essenciais para iniciar a etapa da pesquisa na área de Serviço Social.
2- O (a) aluno (a) só pode pesquisar algo se for obrigatoriamente relacionado ao Serviço Social?
Não. Qualquer assunto da atualidade pode ser objeto de uma pesquisa científica. Porém, vou fazer algumas ressalvas necessárias. Primeiro, o tema deve ser pertinente para a área, com notório viés de contribuição científica/acadêmica para o curso – ainda que o (a) aluno (a) não trate necessariamente da profissão em si ou da inserção do assistente social em algum campo de atuação. Em segundo lugar, o (a) aluno (a) precisa levar em conta a possibilidade de executar a pesquisa. Mais ainda, o assunto deve ser compatível para desenvolver um trabalho de caráter científico/acadêmico. Acredito que não importa tanto o tema escolhido (desde que se leve em conta as ressalvas acima), mas a experiência de trabalho na condução do estudo.
3- O (a) aluno (a) deve, obrigatoriamente, submeter seu projeto a um Comitê de Ética e Pesquisa?
Essa é uma pergunta muito interessante e para responder eu vou mencionar a Resolução n° 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde. Essa Resolução nos diz que a pesquisa em ciências humanas e sociais exige respeito e garantia do pleno exercício dos direitos dos participantes, devendo ser concebida, avaliada e realizada de modo a prever e evitar possíveis danos aos participantes e dispõe sobre as normas aplicáveis a pesquisas em Ciências Humanas e Sociais cujos procedimentos metodológicos envolvam a utilização de dados diretamente obtidos com os participantes ou de informações identificáveis ou que possam acarretar riscos maiores do que os existentes na vida cotidiana.
O trabalho poderá ser dispensado da avaliação do Comitê de Ética e Pesquisa nos seguintes casos: pesquisa de opinião pública com participantes não identificados; pesquisa que utilize informações de acesso público; pesquisa que utilize informações de domínio público; pesquisa censitária; pesquisa com bancos de dados, cujas informações são agregadas, sem possibilidade de identificação individual; pesquisa realizada exclusivamente com textos científicos para revisão da literatura científica; pesquisa que objetiva o aprofundamento teórico de situações que emergem espontânea e contingencialmente na prática profissional, desde que não revelem dados que possam identificar o sujeito; atividade realizada com o intuito exclusivamente de educação, ensino ou treinamento sem finalidade de pesquisa científica, de alunos de graduação, de curso técnico, ou de profissionais em especialização.
Sugiro que o (a) discente analise em qual dessas situações sua pesquisa na área de Serviço Social se enquadra e, em caso de estudos cujos procedimentos metodológicos envolvam a utilização de dados diretamente obtidos com os participantes ou de informações identificáveis ou que possam acarretar riscos maiores do que os existentes na vida cotidiana, deve sim apresentar o protocolo de pesquisa ao sistema CEP/CONEP.
4- Quais os piores erros o (a) aluno (a) do curso de Serviço Social comete no processo de pesquisa?
a) Não ler, não estudar, não treinar a escrita. A leitura é fundamental para aumentar o vocabulário, ampliar o repertório de ideias, melhorar a redação e amadurecer intelectualmente. Além disso, explorar os trabalhos científicos sobre o tema escolhido e a identificação dos autores que comporão a revisão de literatura é uma etapa fundamental.
b) Não examinar o que dizem as Resoluções n° 510/2016 e 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. Esses são marcos normativos que dispõem sobre atividades de pesquisa.
c) Cometer plágio. Esse erro é muito comum (e grave) consequência do erro de número 1 (não ler, não estudar, não se aproximar do seu tema de pesquisa, não aprimorar a capacidade de escrita).
d) Não planejar a pesquisa. Planejar a execução da pesquisa (desde a escolha da temática até a organização do cronograma) e elaborar um bom projeto é um tempo que se economiza com problemas futuros na execução do TCC.
e) Não ter atenção na escolha do orientador. O trabalho de orientação é condição fundamental na condução do processo de pesquisa em Serviço Social. Escolher o (a) orientador (a) é uma etapa muito importante que o (a) discente muitas vezes deixa de lado ou opta por um orientador (a) pensando nas afinidades pessoais, ou pelo fato daquele professor (a) ser “legal demais”. Defendo que o (a) orientador (a) deve ter afinidade com o tema que o (a) aluno (a) está se propondo a investigar. Uma dica é consultar o Lattes dos professores que compõem o corpo docente do curso.
5. E quanto ao plágio, como evitar e quais as consequências de um trabalho com plágio?
O aspecto criminal do plágio está previsto no Artigo 184 do Código Penal. O artigo prevê a pena de três meses a um ano, ou multa, a quem violar direito autoral. Mas há, também, consequências no meio acadêmico e cada instituição de ensino adota suas medidas.
Laura Martins
Primeiramente, lendo, estudando e escrevendo. E para responder a essa indagação, serei repetitiva: a leitura é fundamental para aumentar o vocabulário, ampliar o repertório de ideias, melhorar a redação e amadurecer intelectualmente. Além disso, explorar os trabalhos científicos sobre o tema escolhido e a identificação dos autores que comporão a revisão de literatura é uma etapa fundamental.
Em segundo lugar, reservando tempo para planejar o processo de pesquisa, ler e escrever. Além disso, o (a) aluno (a) deve ter o cuidado de incluir todas as fontes de onde fez empréstimos. E mais: ter ao alcance um bom guia que contenha as regras de como citar corretamente as fontes e fazer referências bibliográficas.
O aspecto criminal do plágio está previsto no Artigo 184 do Código Penal. O artigo prevê a pena de três meses a um ano, ou multa, a quem violar direito autoral. Mas há, também, consequências no meio acadêmico e cada instituição de ensino adota suas medidas.
6. Quais leituras você considera indispensáveis para o (a) aluno (a) nesse processo de pesquisa e elaboração de projeto ou TCC?
Então, vou sugerir quatro leituras que dão um panorama muito claro, preciso e didático, sem cair na superficialidade, sobre o ato de pesquisar, o processo de investigação, o projeto de pesquisa e questões afins: 1) Pesquisa Social: teoria, método e criatividade, da Maria Cecília de Souza Minayo; 2) Como elaborar projetos de pesquisa, do Antônio Carlos Gil; 3) Pesquisa em Serviço Social: utopia e realidade, da Aglair Alencar Setubal; 4) A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em ciências sociais, da Mirian Goldenberg.
Professor universitário. Doutorando em Políticas Públicas. Mestre em Sociologia. Especialista em Gestão Pública Municipal. Especialista em Direito Previdenciário. Bacharel em Serviço Social e em Administração.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5220780303947208
ResearchGate: https://www.researchgate.net/profile/Francisco-Garcez