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O trabalho do (a) assistente social no esporte

Nas últimas décadas, o esporte consolidou-se não apenas como atividade física ou entretenimento, mas como importante dimensão dos direitos sociais e humanos. Nesse contexto, a presença do assistente social no campo esportivo revela-se estratégica, pois conecta o esporte às políticas públicas de inclusão, cidadania e justiça social. A prática profissional do Serviço Social nesse campo busca ressignificar o esporte enquanto espaço de convivência, fortalecimento de vínculos e emancipação dos sujeitos historicamente marginalizados. Como destacam Messias, Lima e Lopes (2024), a atuação da assistente social no esporte amplia o escopo tradicional da profissão, articulando o direito ao lazer e ao esporte com a defesa intransigente dos direitos humanos e sociais.

A atuação do assistente social no campo esportivo representa, portanto, uma área de intervenção interdisciplinar, capaz de dialogar com a Educação Física, a Pedagogia, a Psicologia e a Gestão Pública. Essa interlocução reflete a natureza plural do esporte, compreendido aqui não como mero espaço de rendimento, mas como campo de mediações sociais e de formação cidadã, tal como argumentam Vianna e Lovisolo (2009).

O esporte, reconhecido como direito social e elemento fundamental para o desenvolvimento humano integral, constitui um espaço socio-ocupacional onde o Serviço Social pode atuar na garantia de direitos, promoção da cidadania e enfrentamento das desigualdades sociais (Messias, Lima; Lopes; 2024).

O esporte como direito social

O esporte como direito social está inscrito no artigo 6º da Constituição Federal e deve ser garantido de forma universal, democrática e inclusiva. Messias, Lima e Lopes (2024) destacam que a negação do acesso ao esporte ainda é expressão das desigualdades de classe, gênero e deficiência. Assim, o assistente social, ao intervir nesse campo, assume a tarefa de mediar o acesso a políticas públicas e a práticas emancipatórias, ampliando as oportunidades de participação social.

Como observam Vianna e Lovisolo (2009), a proliferação de projetos esportivos voltados para crianças e jovens em situação de vulnerabilidade reflete a tentativa de usar o esporte como porta de entrada para novos horizontes sociais e educacionais. No entanto, é preciso ter clareza de que o esporte não é, por si só, redentor: ele adquire potencial transformador quando articulado a políticas públicas efetivas e a um trabalho social crítico. Nesse ponto, a atuação da assistente social é decisiva, pois garante a dimensão ética, educativa e participativa dessas ações.

A gestão das políticas públicas de esporte no país tem se expandido, envolvendo diferentes esferas do Estado e também o Terceiro Setor, onde o assistente social se insere como agente de formulação, execução e avaliação de projetos socioesportivos (Santos, Silva, 2022).

Áreas de atuação do (a) assistente social no esporte

Projetos Sociais Esportivos

Nos projetos sociais esportivos, o assistente social atua diretamente na transformação de realidades locais, utilizando o esporte como instrumento pedagógico e de mobilização coletiva. Como apontam Santos e Silva (2022), o papel desse profissional vai além da administração de projetos: ele envolve a escuta ativa, o diagnóstico social e a construção de estratégias de inclusão.

Esses projetos se constituem como espaços de educação não formal, onde valores como solidariedade, respeito e cooperação são trabalhados em conjunto com o desenvolvimento físico e social dos participantes. Nessa dimensão, o esporte é compreendido como processo educativo e político, e não apenas recreativo.

Inclusão de Pessoas com Deficiência

Entre as áreas mais potentes de atuação, destaca-se a inclusão de pessoas com deficiência através do esporte adaptado. Messias, Lima e Lopes (2024) evidenciam, em estudo sobre o trabalho da APAE de Arapiraca/AL, como o esporte se transforma em ferramenta de enfrentamento ao capacitismo e ampliação da autonomia dos sujeitos. O projeto “APAExonados pelo ASA” demonstra que o esporte pode transcender o ambiente institucional e tornar-se prática de cidadania e convivência, articulando o Serviço Social, a Educação Física e o voluntariado comunitário.

Essa experiência reforça a ideia de que o assistente social é mediador de direitos, atuando para que a inclusão não se limite à participação simbólica, mas resulte em pertencimento e reconhecimento social.

Medidas Socioeducativas e Esporte

Outro campo relevante é o das medidas socioeducativas, especialmente nos CREAS, onde o esporte é utilizado como ferramenta de ressocialização e reconstrução de projetos de vida. O desafio, porém, está na fragmentação das políticas públicas e na dificuldade de diálogo entre as áreas de Assistência Social, Educação e Saúde. Como indicam os estudos de Messias, Lima e Lopes (2024), a intersetorialidade é condição essencial para o êxito dessas ações.

Competências e Atribuições Profissionais

A atuação do assistente social no esporte exige fundamentação teórica sólida e domínio técnico para planejar, gerir e avaliar políticas e projetos (Santos; Silva, 2022). Vianna e Lovisolo (2009) já advertiam que o sucesso de um projeto de inclusão social depende da clareza de seus objetivos e da participação real da comunidade envolvida.

Nesse sentido, as competências do assistente social incluem:

  • Elaboração e execução de projetos sociais esportivos;
  • Articulação com redes públicas e privadas;
  • Mobilização comunitária;
  • Avaliação de resultados e impacto social.

Mais do que um executor de ações, o assistente social é sujeito político e educativo, que atua na defesa de direitos e na promoção de um esporte acessível, inclusivo e humanizador (Messias, Lima; Lopes; 2024).

Espaços de Atuação

O Terceiro Setor se consolida como um dos principais espaços de trabalho do assistente social no esporte, conforme apontam Messias, Lima e Lopes (2024) e Santos e Silva (2022). ONGs, fundações e associações comunitárias desenvolvem programas que unem esporte, cultura e cidadania — e nesses contextos o Serviço Social é indispensável para garantir que o foco permaneça na transformação social, e não apenas na execução técnica.

Em clubes esportivos e instituições privadas, o assistente social também encontra espaço de intervenção, seja no apoio psicossocial a atletas e famílias, seja na promoção de programas sociais com comunidades do entorno. Já na esfera pública, o profissional participa da formulação e controle social das políticas esportivas, contribuindo para sua efetividade e transparência.

Desafios da Atuação Profissional

Apesar dos avanços, a prática profissional enfrenta obstáculos estruturais. A fragmentação das políticas públicas, a escassez de recursos materiais e humanos e a falta de integração intersetorial limitam o potencial das ações (Vianna; Lovisolo, 2011).

Soma-se a isso a tendência de se compreender o esporte apenas como atividade compensatória, e não como direito social. Esse reducionismo reforça desigualdades e esvazia o potencial educativo e político do esporte. O desafio do assistente social é, portanto, repolitizar o esporte, recolocando-o como campo de disputa por direitos, cidadania e dignidade.

Apesar das limitações, o campo esportivo oferece amplas possibilidades de intervenção e inovação social. O esporte é um espaço privilegiado de educação não formal, onde o assistente social pode fomentar processos de construção da cidadania, solidariedade e autonomia.

Entretanto, é fundamental superar desafios como a fragmentação das políticas públicas, a insuficiência de recursos e a necessidade de maior intersetorialidade. Políticas públicas bem geridas e a colaboração entre diferentes setores são essenciais para promover a inclusão social e o desenvolvimento integral dos participantes.

Como citar
GARCEZ, Francisco Thiago C. O trabalho do (a) assistente social no esporte. Portal do Serviço Social, 2025. Disponível em: https://portaldoss.com.br/o-trabalho-do-assistente-social-no-esporte/. Acesso em: dia mês. ano.

Referências

MESSIAS, Thalita da Silva; LIMA, Viviane Mello; LOPES, Flávia Augusta Santos de Melo. A relação entre a inclusão das pessoas com deficiência através do esporte e a atuação do Serviço Social na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Arapiraca/Alagoas. Apae Ciência, v. 21, n. 1, p. 22-32, 2024. Disponível em: https://apaeciencia.org.br/index.php/revista/article/view/385. Acesso em: 2 out. 2025.

SANTOS, Andréia Regina dos; SILVA, Maria das Graças e. Serviço social e sua relação com os projetos sociais no terceiro setor. Revista Científica Núcleo do Conhecimento, set. 2022. Disponível em: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/ciencias-sociais/projetos. Acesso em: 1 out. 2025.

VIANNA, José Antonio; LOVISOLO, Hugo Rodolfo. Projetos de inclusão social através do esporte: notas sobre a avaliação. Movimento, Porto Alegre, v. 15, n. 3, p. 145-162, jul./set. 2009. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/5190. Acesso em: 1 out. 2025.

VIANNA, José Antonio; LOVISOLO, Hugo Rodolfo. A inclusão social através do esporte: a percepção dos educadores. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 25, n. 2, p. 285-296, abr./jun. 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbefe/a/SyMFvbYg5ZgFZZL5V5NP6GH. Acesso em: 4 out. 2025.

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