LBA

A Legião Brasileira de Assistência (LBA) e a Maturação da Política de Assistência Social no Brasil (1942-1995)

A Legião Brasileira de Assistência (LBA) foi formalmente instituída em um período de profundas transformações políticas e sociais no Brasil. Fundada em 28 de agosto de 1942, sob a égide do governo de Getúlio Vargas, a criação da LBA foi uma resposta direta à participação do país na Segunda Guerra Mundial. Sua finalidade inicial, claramente definida, era “amparar os soldados brasileiros e seus familiares”. Este propósito de auxílio em tempo de guerra serviu como uma poderosa justificação moral para a mobilização de recursos e voluntários em escala nacional. A instituição, que se firmou como uma sociedade civil com estatutos registrados em 5 de setembro de 1942, foi rapidamente autorizada e instalada, evidenciando a urgência e a importância que o governo conferia ao seu papel na retaguarda do esforço bélico nacional.

Embora tenha surgido como resposta emergencial ao conflito, a LBA se transformou em uma das principais instituições de assistência social do século XX, exercendo influência direta na formação do Serviço Social e na consolidação de políticas públicas no país.

Origem da LBA: entre o Estado, o empresariado e o voluntariado feminino

A LBA nasceu com uma estrutura tripartite:

  • Estado – suporte institucional e articulação política;
  • Empresariado – financiamento por meio da Confederação Nacional da Indústria e da Federação das Associações Comerciais;
  • Sociedade civil – participação ativa de mulheres no voluntariado feminino, peça-chave no funcionamento da entidade.

Esse modelo corporativista permitiu a rápida capilarização da LBA, alcançando famílias em diferentes regiões do Brasil e consolidando sua legitimidade social.

Do apoio militar à assistência à maternidade e infância

Com o fim da guerra, a Legião Brasileira de Assistência redefiniu sua missão: passou de um órgão de apoio militar a uma agência federal de assistência geral, focada em maternidade e infância.

Apesar da expansão, manteve forte caráter emergencial, fragmentado e paliativo, atuando sem romper com práticas assistencialistas e clientelistas, principalmente até o golpe de 1964.

O “Primeiro-Damismo” e a feminilização da filantropia

Um traço marcante da LBA foi o “primeiro-damismo”: a presidência da instituição era ocupada pelas primeiras-damas, em nível federal, estadual e municipal.

Essa prática reforçou:

  • A feminilização da filantropia, aproximando Estado e caridade;
  • A visão da assistência como favor pessoal, e não como direito universal;
  • O fortalecimento de relações de paternalismo e clientelismo.

Financiamento e alianças público-privadas

O financiamento da LBA refletia a aliança entre Estado e setor privado. O empresariado, ao contribuir com recursos, garantia uma forma de seguro social: mitigava tensões sociais sem promover reformas estruturais redistributivas que pudessem ameaçar seus interesses econômicos.

Essa dinâmica consolidou a LBA como um modelo de assistência paliativa, mas funcional para manter a ordem social da época.

Fonte: PUC Minas.

A relação entre a LBA e o Serviço Social

A LBA foi fundamental para a profissionalização do Serviço Social no Brasil. Ao mesmo tempo em que oferecia campo de trabalho para assistentes sociais, exigia a reprodução de práticas assistencialistas.

Essa tensão gerou um dilema dentro da profissão:

  • Prática caritativa e clientelista;
  • Luta por direitos sociais e políticas públicas universais.

A extinção da LBA e a transição para a LOAS e o SUAS

A extinção da LBA, em 1º de janeiro de 1995, marcou o fim de um modelo pautado no clientelismo e no assistencialismo.

A mudança se deu em sintonia com:

  • A Constituição Federal de 1988, que inseriu a assistência social na seguridade social;
  • A Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), de 1993;
  • A criação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), em 2004.
CaracterísticaModelo LBA (1942-1995)Modelo SUAS (2004 – atual)
Base ideológicaCaridade, paternalismo, filantropiaDireito do cidadão e dever do Estado
GestãoCentralizada e não eletiva (primeiro-damismo)Descentralizada, participativa e com controle social
FinanciamentoGoverno Federal + empresariadoCofinanciamento entre entes federativos (União, Estados e Municípios)
FocoAções emergenciais e fragmentadasProgramas, serviços e benefícios integrados
AtendimentoFavor e assistência paliativaPolítica de seguridade social pública

O legado da LBA e os desafios atuais

Embora a LBA tenha sido extinta, sua herança cultural e ideológica ainda persiste. Práticas assistencialistas e clientelistas continuam presentes em diversos contextos, mostrando a dificuldade de consolidar a assistência social como direito de cidadania.

O desafio do SUAS é fortalecer uma política pública universal, descentralizada e participativa, capaz de romper definitivamente com a tradição de caridade e paternalismo.

Livro – História do Serviço Social: América Latina, África e Europa

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