O Congresso da Virada – III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais

O Congresso da Virada marcou um período significativo na história do Serviço Social brasileiro, ocorrendo entre os dias 23 e 27 de setembro de 1979, no Centro de Convenções do Anhembi, na cidade de São Paulo. Este evento foi resultado da articulação entre a Associação Profissional dos Assistentes Sociais (Apas) e os sindicatos, impulsionada pelo aumento de pressões decorrentes de diversas lutas sociais, como o I Congresso da Mulher Paulista, a Reforma Sanitária e as pressões relacionadas à dívida externa. Essa conjuntura viu o crescente envolvimento de várias categorias, incluindo os assistentes sociais, nas reivindicações por mudanças sociais.

Deliberações Críticas e Contestação ao III CBAS

Durante o Congresso da Virada, os participantes deliberaram sobre uma postura crítica e de contestação em relação ao III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS), que, até então, era organizado pelo conjunto CFAS/CRAS. Um documento das entidades sindicais foi elaborado, buscando sua divulgação, distribuição de panfletos e trabalho com a categoria durante o congresso. Nesse documento, pontos importantes foram apresentados, incluindo o repúdio ao convite de representantes da ditadura militar para a mesa de abertura do congresso, críticas à limitada participação dos estudantes, ao alto preço das inscrições, à definição de temas e setorização dos debates, além da ausência de participação efetiva da categoria em todo o processo.

Encaminhamentos e Transformação do Congresso

Os assistentes sociais presentes no Congresso da Virada convocaram a categoria para uma assembleia, que acabou se tornando uma assembleia diária, interferindo e transformando o próprio congresso com as críticas necessárias. Esse movimento culminou na destituição da comissão de honra, e, no encerramento, foram convidados representantes dos movimentos sociais combativos como referência de lutas. A plenária final resultou no compromisso da profissão com a classe trabalhadora e na autoafirmação dos assistentes sociais como trabalhadores, reconhecendo sua condição de assalariamento.

Impacto e Legado

O Congresso da Virada foi um evento coletivo e massivo, marcando a erupção do projeto de ruptura com o conservadorismo por sua direção social nos anos 1980. Além disso, foi um marco na construção do Projeto Ético-Político Profissional do Serviço Social brasileiro a partir dos anos 1990. As decisões tomadas no congresso e a transformação que ocorreu durante o evento foram fundamentais para a consolidação de uma nova visão e compromisso da profissão com as questões sociais e com a classe trabalhadora.

Cursei Serviço Social na escola da Rua Sabará, de 1968 a 1971, e a militância e a consciência política iniciadas no movimento secundarista aí se aprofundaram com a atuação no Grêmio da Escola de Serviço Social (Gess), cuja organização se pautava nas reivindicações estudantis, em um período de repressão pela ditadura militar instaurada pelo golpe de 1964. Nossa ação coletiva de resistência e de luta em 1968 foi muito intensa e nos formamos política e ideologicamente nas organizações de esquerda revolucionária. Ao entrar na universidade, filiei-me à Ação Popular (AP) marxista-leninista, cujos jovens vieram, em larga escala, da Juventude Estudantil Católica (JUC), alinhada à Teologia da Libertação, e depois se desvincularam para se inserir em uma ação revolucionária de superação do capitalismo e construção do socialismo. Os estudantes da AP eram majoritários no Serviço Social, o que nos levou a assumir a Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social (Eness) na União Nacional dos Estudantes (UNE), à qual as executivas de curso se vinculavam. No Congresso da Eness em julho de 1968, em Fortaleza (CE), já debatíamos a necessidade de construir um projeto de formação profissional a partir da realidade brasileira. O XXX Congresso da UNE, em outubro de 1968, em Ibiúna, teve a participação de cerca de mil estudantes, sendo 152 mulheres, 25 delas dos cursos de Serviço Social. Em 1968, a polícia reprimiu o Congresso da UNE, fomos todos presos e enquadrados na Lei de Segurança Nacional, que até a anistia pesou muito sobre todas nós que permanecemos no país ou no exílio

Depoimento de Abramides em Memória: 80 anos do Serviço Social no Brasil: O III CBAS “O Congresso da Virada” 1979.

História do Serviço Social no Brasil – Portal do Serviço Social

XVII CBAS – Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais

Congresso da Virada e o Serviço Social hoje: reação conservadora, novas tensões e resistências 

Referências

ABRAMIDES, M. Memória: 80 anos do Serviço Social no Brasil: O III CBAS “O Congresso da Virada” 1979. Serviço Social & Sociedade [online]. 2017, n. 128 [Acessado 25 Novembro 2021] , pp. 181-186. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/0101-6628.102>. ISSN 2317-6318. https://doi.org/10.1590/0101-6628.102.

NETTO, J. P. A construção do projeto ético-político contemporâneo. In Capacitação em Serviço Social e Política Social. Módulo 1 – Brasília: Cead/ABEPSS/CFESS, 1999.

NETTO, J. P.. Ditadura e Serviço Social. São Paulo: Cortez.

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